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OUTRA DESPEDIDA

Acho que o pior momento na vida de um escritor é quando relê uma história que ele levou meses para escrever, que ele gastou muitas horas fazendo pesquisas para saber como bem contextualizar, e percebe que, apesar de todo seu esforço e trabalho, há falhas irrecuperáveis no texto.

Estou passando por isso com O Canhoto. Foram meses de estudo para conhecer os lugares por onde ele andou, os eventos reais em que ele se envolveu; para tentar compreender e reproduzir como as pessoas do século XII pensavam, sentiam e se comportavam; para escrever uma história de 388 páginas (manuscritas). E, mesmo assim, eu falhei. Talvez a dificuldade venha dessa sensação de fracasso, de ter que admitir uma derrota. Mas a verdade é que eu não consegui que Nicolaas seja um protagonista por quem o leitor possa torcer (para o bem ou para o mal).

A leitura do livro é fácil, sim, porque meu estilo é assim mas, ao final, quem se importa com o que Nicolaas sente, pensa ou quer? Acho que nem ele mesmo…

O Canhoto é reescrita de Mosteiro, que foi criada num momento da minha vida em que eu me sentia perdida, sem pátria, sem rumo. E isso impregnou tanto nas personagens que, mesmo depois de escrever a história duas vezes, as personagens ainda estão perdidas, sem pátria, sem rumo. Como a reescrita foi feita entre 2007 e 2009, há também um lapso de tempo muito grande entre a escrita e a publicação, e eu amadureci de lá para cá, então vejo com mais clareza os defeitos da história: as cenas desconexas sem elementos de ligação; o excesso de diálogos sem contextualização narrativa; a própria personalidade de Nicolaas, que briga com todo mundo que gosta dele. Não é porque eu uso os diálogos para conduzir os conflitos que eles precisam ser discussões. E é o que estava acontecendo.

Então, embora doa, descarto O Canhoto. Não será publicada. Quem sabe, uma outra hora, os temas voltem a ser trabalhados pelo meu inconsciente e eu decida escrever uma terceira versão. E, como “a fila anda” e “rei morto, rei posto”, vamos retomar a revisão de De mãos dadas para ver se será publicada. Vida que segue.